Aconselhamento e psicoterapia para adultos, casais e famílias.

O perigo das "receitas"

Cristina Fernandes • mar. 20, 2022

Aquilo que ajuda uns, bloqueia outros.

A mesma receita pode ter efeitos opostos e ser fonte de frustração em vez de solução.

As generalizações são úteis, mas quando interpretadas como verdades absolutas transformam-se em caixas apertadas onde nem todos encontram lugar simplesmente porque não é naquela caixa que se enquadram.

A frustração que advém de não conseguir fazer, agir, pensar, sentir, gerir, atingir aquilo que nos dizem e fazem acreditar que é para todos, é um peso que esmaga e destrói.

“Se os outros conseguem porque é que eu não consigo? “

Porque nem sempre o que pensamos que queremos é aquilo que realmente se adequa a nós, nem tão pouco aquilo que realmente queremos na nossa essência.

Não conhecemos as nossas potencialidades, não conhecemos aquilo que nos torna únicos, não reconhecemos as nossas capacidades inatas, e se não conhecemos não podemos dar valor e aplicar tudo o que já somos.

Centramo-nos em tudo o que não somos, em tudo o que pensamos querer ser, e somos levados a um ciclo constante de insatisfação permanente. Trata-se de algo que nos é incutido, direta ou indiretamente, pelo meio onde nos movemos. Até certa idade pode ser a família, depois o círculo de amigos e finalmente as redes sociais e a psicologia e terapia motivacional Instagram.

(O ser humano tem essa tal dimensão inconsciente que se não for tornada consciente por cada um, nos leva a facilmente sermos manipulados por quem domina o conhecimento dos mecanismos e gatilhos do funcionamento da mente humana.)

Somos bombardeados por chavões descontextualizados, simplificados e reduzidos ao senso comum, usados para empolar as cargas emocionais de quem lê e assim atrair e vender. Consumir. O mecanismo é igual quer falemos do convencional, quer falemos do alternativo. Técnicas de marketing, manipulação e criação de necessidades para mais vender. Seja o que for.

Antes de tudo, há que aprender a conhecer-se, aprender a descobrir quem realmente se é, e o que está por trás dessa construção, distinguindo o que é estrutural e o que é adquirido.

Podemos trocar de roupa mas não de corpo. E a roupa terá o tamanho e características minimamente adequadas ao corpo e condições ambientais para que seja funcional. Podemos transformar o corpo, dentro dos limites da matéria, mas teremos que o conhecer muito bem para sermos bem sucedidos. A dieta e exercícios de uns não servem para todos.

Da mesma forma, há pessoas que devido às suas características estruturais necessitam de um objetivo identificado, de uma meta, de um rumo, para se moverem e saírem de onde estão. Outras há que apenas descobrirão esse objetivo depois de se porem a caminho sem saber qual o destino, experimentando uma direção. Para umas o destino traz o caminho, para outras o caminho revela o destino. Há uma fórmula única para cada ser.

Conhecer quem somos sem tudo aquilo que pensamos que somos e antes de tudo o que pensamos querer ser, é essencial.

Cristina Fernandes

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